O fim do Pregador da Acolhida
Morte de Francisco abre o debate sobre um Mundo mais Piedoso

Jornal De Domingo - Por: Roberto Lopes - Jornalista 28/04/2025 - 10h41min - 3 min de leitura
A morte do argentino Jorge Mario Bergoglio, de 88 anos, 266º Papa do Catolicismo, na madrugada da segunda-feira, lançou o mundo em uma série de indagações acerca de algumas características do Papado agora encerrado, que derivavam diretamente da vontade de Bergoglio de atuar em prol dos mais fracos e menos afortunados.
Mas essas perguntas precisarão ser respondidas pelo sucessor de Francisco. Por exemplo:
A Igreja continuará a defender, com obstinação, o acolhimento aos refugiados e migrantes que buscam, em desespero, uma vida melhor?
O cenário internacional para os defensores da tese de Francisco pró-acolhimento das pessoas carentes, originárias, sobretudo, da África e do Oriente Médio, não é animador.
Várias correntes políticas de destaque na Europa – especialmente na Alemanha, França e Reino Unido – são contrárias ao acolhimento de migrantes, por duas razões principais: a) os migrantes disputam vagas de emprego normalmente escassas nesses países; b) a situação de pobreza dos migrantes exige que esses Governos gastem muito dinheiro provendo moradia e atendimento à saúde dos recém-chegados, em detrimento dos seus nacionais.
Política Externa
Uma segunda questão é a da colaboração que o Vaticano poderá dar à resolução de conflitos regionais. O Papa Francisco não se esquivou do tema. No comando da Igreja ele ajudou os Estados Unidos a se aproximarem de Cuba (assunto que não parece interessar ao novo chefe de Governo americano, Donald Trump), e desempenhou papel importante na pacificação da guerra entre o Governo colombiano e a guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Francisco já havia manifestado o interesse de tentar mediar a guerra russo-ucraniana, e colocar seus préstimos à disposição de um esforço internacional para alcançar a interrupção dos bombardeios aéreos de Israel na Faixa de Gaza.
Hitler
Em situações extremas, porém, a força política do Vaticano já foi desprezada.
No início da década de 1940 – auge do expansionismo militar nazista --, por exemplo, o ditador alemão Adolf Hitler foi confrontado por alguns colaboradores, que insistiam que ele ouvisse e levasse em consideração os argumentos da Santa Sé sobre determinada divergência na Europa.
Hitler, então jogou sobre a mesa de negociação a cartada terrível que trazia na manga da túnica militar, perguntando a quantos o ouviam, quantos “tanques de guerra” tinha o Vaticano...
Ante o silêncio de seus interlocutores, que sabiam ser a resposta “nenhum”, o ditador despediu-se deles e foi tratar de problemas que julgava mais urgentes.
AVC e colapso
De volta ao presente.
O argentino Bergoglio morreu as 2h35 da madrugada da segunda-feira, 21 de abril, no modesto apartamento em que residia.
Após passar 38 dias internado na famosa Policlínica Gemeli, no centro de Roma, tratando de uma pneumonia dupla, ele fora liberado para voltar ao trabalho dentro de certas limitações. Entretanto, exames posteriores concluíram que um acidente vascular cerebral (o famoso AVC), agravado por um colapso cardíaco, retirara de seus médicos a esperança de que as doenças pudessem ser revertidas.
O corpo de Francisco chegou à Basílica de São Pedro para ser velado, no final da manhã da quarta-feira, em dois dias, nada menos que 90.000 pessoas desfilaram diante de seu caixão de madeira e zinco, forrado com um pano de feltro vermelho. Seu rosto foi coberto com um lenço branco, porque, segundo os ensinamentos bíblicos, depois da crucificação e morte de Jesus, também seu rosto teria sido protegido por um pano branco.
O sepultamento de Francisco foi marcado para a manhã do sábado, 3 de maio, dentro da Igreja de Santa Maria Maggiore, que o Pontífice morto tanto apreciava.
Cento e trinta e cinco cardeais – dois deles brasileiros – estão incumbidos de escolherem o sucessor de Francisco, a partir da terceira semana de maio. A possibilidade de que seja, mais uma vez, um sul-americano, é considerada um tanto remota.
À frente de uma comitiva de cinco autoridades, o Presidente brasileiro, Luís Ignácio Lula da Silva, viajou para Roma, a fim de acompanhar as exéquias.
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