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As duas faces de Mahatma

Por Ailton Silva Jornalista 08/08/2025 - 18h16min - 1 min de leitura

Em Catanduva, no noroeste paulista, nove diretores de um hospital psiquiátrico foram presos na manhã da última quinta-feira. O local, que carrega o nome de Mahatma Gandhi — apóstolo da não-violência —, virou palco de um dos maiores escândalos de corrupção na saúde pública do país. A ironia do nome não passou despercebida entre os promotores do Ministério Público, que batizaram a operação de Duas Caras. Gandhi, o original, talvez franzisse a testa.

 

A investigação, comandada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), revelou uma teia de desvio de recursos públicos que faz parecer coisa de amador o escândalo das sanguessugas. Estima-se que o grupo movimentou mais de R$ 1,6 bilhão, um valor tão alto quanto etéreo, que circulava por notas frias, folhas de pagamento engordadas e empresas de fachada com nomes genéricos.

 

Os contratos eram firmados com diversos municípios em vários estados — São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina. Um mosaico federativo de irregularidades. A OS (Organização Social) Mahatma Gandhi, que até então vendia a imagem de entidade filantrópica, agia como uma holding paralela da corrupção. Sua estratégia era simples e engenhosa: firmava contratos para gerir Unidades Básicas de Saúde e, dentro delas, terceirizava serviços para empresas que, na verdade, pertenciam aos próprios integrantes do esquema. O dinheiro dava voltas, mas sempre voltava para casa.

 

Na coletiva de imprensa, o promotor João Paulo Gabriel de Souza explicou, com frieza burocrática, que havia duas frentes de atuação: uma voltada à “prestação de serviços” — treinamentos, primeiros socorros, fornecimento de bens; outra, mais sutil, inflava folhas de pagamento com cargos e salários que existiam apenas no papel. “A gente está falando de fantasmas bem remunerados”, disse ele, tentando não parecer sarcástico.

 

A Justiça autorizou 12 prisões temporárias. Nove foram efetivadas — as outras esbarraram em ausências e atestados médicos. Mandados também foram cumpridos em Arujá, Carapicuíba, Piracicaba, Viradouro, Bauru, além de cidades em outros quatro estados. A operação teve apoio dos Ministérios Públicos de cinco unidades da federação, da Receita Federal e da Polícia Militar, transformando a caçada em um daqueles filmes policiais que a Netflix provavelmente já comprou os direitos.

 

Em paralelo, a Polícia Federal deflagrava em Bebedouro outra operação, esta batizada de Descalabro. O nome não poderia ser mais adequado. O alvo era Fernando Galvão Moura, ex-prefeito da cidade, investigado por contratos com a mesma OS de Catanduva. Um deles, avaliado em R$ 13,2 milhões, foi assinado durante sua gestão. A defesa do ex-prefeito argumenta que ele é apenas uma coincidência no enredo — estava no lugar certo, na hora errada, cercado pelas pessoas erradas.

 

A FVS, empresa de administração judicial, assumiu o comando da Mahatma Gandhi por determinação judicial. Tentará agora organizar o caos — tarefa que beira a psiquiatria institucional. A Justiça proibiu o rompimento dos contratos por 30 dias, tempo mínimo para tentar descobrir o que, de fato, ainda funciona na estrutura.

 

Mortes em unidades administradas pela OS também foram citadas. Nada confirmado oficialmente, mas a suspeita ronda o escândalo como um espectro incômodo: além do dinheiro, pode ter escorrido sangue.

 

Enquanto isso, nas unidades de saúde, médicos atendem pacientes, enfermeiras aplicam vacinas, recepcionistas sorriem. O cotidiano segue, ainda que por trás das cortinas alguém tenha desligado a luz e levado o gerador.

 

 

 

 

 

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