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Nem lei, nem ordem: apenas morte | JD

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Nem lei, nem ordem: apenas morte

Na operação que matou 64 pessoas, o Rio escancara o fracasso da segurança pública e a ausência de coordenação entre Castro e Lula — uma guerra sem vencedores, apenas cadáveres.

Policiais transportam corpos para um hospital após a Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro.

Por Ailton Silva Jornalista 28/10/2025 - 20h06min - 1 min de leitura

O amanhecer de terça-feira trouxe consigo o som metálico dos helicópteros e o eco das rajadas de fuzil. O céu do Rio, sempre generoso em tons de azul, amanheceu coberto por fumaça e medo. Nos complexos da Penha e do Alemão, o que começou como uma operação policial rapidamente se transformou em uma guerra urbana. Ao fim do dia, 64 pessoas estavam mortas, entre elas quatro policiais. O número de presos chegou a 81. E o Estado — mais uma vez — se ergueu sobre os destroços da própria falência.

 

A operação mobilizou 2,5 mil agentes das polícias Militar e Civil, oficialmente para capturar lideranças do Comando Vermelho e “retomar o controle” de territórios tomados pela criminalidade. Jornais estrangeiros a classificaram como “a mais letal da história do estado”, e as ruas do Rio de Janeiro se transformaram em um palco de guerra: tiros, barricadas, sirenes e moradores aprisionados entre o medo e a sobrevivência.

 

Mas o controle jamais existiu. Nas vielas e becos, onde o Estado se mostra apenas fardado, a lei é pronunciada à bala, e a presença da autoridade se confunde com a violência. Para os habitantes, a retórica oficial não passa de um eco distante diante da rotina de guerra cotidiana.

 

O governador Cláudio Castro (PL) defendeu a ofensiva com orgulho marcial. Disse que o Rio “atua sozinho” e que o governo federal “se omite”.

 

“Tivemos pedidos negados três vezes. Para emprestar o blindado, tinha que ter GLO (Garantia da Lei e da Ordem), e o presidente é contra a GLO. Cada dia é uma razão para não colaborar”, disse Castro em entrevista no Centro Integrado de Comando e Controle.

 

O recado foi claro: se o sangue corre, a culpa é de Brasília.
Do outro lado, Lula permaneceu em silêncio — um silêncio que pesa mais do que qualquer pronunciamento.

 

A guerra que o Estado fabrica

 

A operação foi anunciada como cumprimento de 51 mandados de prisão, mas seu alcance ultrapassou o jurídico. Na prática, tratou-se de uma demonstração de força — uma tentativa de reafirmar o poder estatal em territórios que há décadas não o reconhecem. O Gaeco denunciou 67 pessoas por associação ao tráfico e três por tortura. A Core e o Bope lideraram a incursão, enfrentando não apenas fuzis, mas drones carregados com explosivos — o crime organizado aperfeiçoando a tecnologia antes do Estado que o combate.

 

No meio do fogo cruzado, moradores escondidos atrás de paredes finas ouviam explosões e rezavam. Escolas fecharam. Linhas de ônibus foram interrompidas. E a normalidade carioca — essa ilusão que teima em resistir — foi substituída pela sensação de que o Rio vive permanentemente em estado de exceção.

 

Política de morte

 

Em meio às estatísticas, uma voz dissonante rompeu o coro oficial.
A vereadora Thais Ferreira (PSOL) escreveu nas redes sociais:

“O que está acontecendo no Alemão e na Penha não é operação policial, é genocídio. Cláudio Castro transformou o Rio em um laboratório de extermínio do povo negro e pobre.”

 

A palavra “genocídio”, que políticos evitam e moradores reconhecem, paira sobre cada operação como um aviso tardio.
O saldo da “vitória” é contado não em prisões, mas em corpos — quase todos jovens, quase todos pretos, quase todos pobres. A política de segurança do Rio já não se distingue da política de extermínio.

 

O silêncio de Brasília, o discurso de Guanabara

 

Castro fala em “guerra” e “defesa do Estado”. Lula, ao negar a GLO, fala em “limites democráticos”. Entre os dois discursos, há um abismo ocupado por corpos e escombros.


A ausência de coordenação entre governos expõe o que o país se recusa a admitir: o Rio é o retrato antecipado de um Brasil onde a violência já não é exceção, mas método.

 

As instituições seguem debatendo competências enquanto o morro desaba. O governador culpa o presidente. O presidente evita o confronto. E a população enterra seus mortos.

 

Nenhum vencedor

Ao final do dia, as manchetes falavam em “operação bem-sucedida”.
Mas, nas vielas da Penha, o sucesso tem cheiro de sangue e pólvora.
Castro venceu o noticiário. Lula preservou o silêncio.
E o Rio perdeu mais um pedaço de si.

 

Porque, no fundo, não há lei, nem ordem — há apenas morte.

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