Cartas que Encantam
Entre cartas e aplausos, alunos de Ariranha celebram autoria em noite de autógrafos
Por Ailton Silva Jornalista 16/11/2025 - 21h38min - 1 min de leitura
O Teatro Municipal “Profª Lívia Pozzetti Lopes”, em Ariranha, amanhecia em silêncio, mas, na noite de 10 de novembro, ganhou vida com um lançamento literário raro, protagonizado por crianças. Pais chegavam com passos contidos, professores ajustavam os últimos detalhes, e os pequenos escritores — alguns segurando o livro com as duas mãos para dedicar às famílias e eternizar o momento sob as lentes da fotógrafa Daiane Silva, como quem teme deixá-lo escapar — ocupavam lentamente as fileiras da plateia.
A ação é fruto de uma boa prática de leitura, resultado da parceria entre a Prefeitura de Ariranha, a Secretaria de Estado da Educação, por meio do Programa Alfabetiza Juntos SP, e patrocinadores locais, como a Fábrica de Velas São Domingos.
Segundo apuração da reportagem do Jornal de Domingo, o livro Cartas que Encantam não surgiu de um projeto grandioso, mas da combinação de rotinas escolares, inspirações literárias e cadernos usados. A obra ganhou forma nas salas de aula das escolas municipais EMEF Prof.ª Benta Teixeira de Carvalho Pereira e EMEF Prof.ª Dircília de Carvalho Pereira Gutierrez, onde professores e alunos descobriram que, às vezes, basta um envelope imaginário para abrir espaço à criatividade.
Na plateia, o prefeito Dedê Trovó, acompanhado da primeira-dama Marina, do vice-prefeito Tinim Zam, do presidente da Câmara, Júlio da Farmácia, e dos vereadores Rique, Lenita Afonso e Isabel Abreu, observava a movimentação com atenção, como quem percebe que, por alguns instantes, a cidade inteira cabia dentro do teatro.
— Quando o poder público e a iniciativa privada trabalham juntos, quem ganha é a população — afirmou o prefeito, dirigindo a fala a estudantes e educadores.
A origem das cartas
A gênese do projeto, desenvolvido nas escolas EMEF Prof.ª Benta Teixeira de Carvalho Pereira e EMEF Prof.ª Dircília de Carvalho Pereira Gutierrez, começou com uma obra infantil inglesa: O Carteiro Chegou, de Janet & Allan Ahlberg. O livro serviu como ponto de partida, mas rapidamente deixou de ser referência para se tornar impulso.
As professoras Daniela, Cátia, Alexandra e Liliane, ao lado das docentes de Tecnologia Rosana e Natália, se dedicaram a algo mais profundo do que ensinar a estrutura de uma carta: elas conduziram os alunos por um processo de autoria, que começava no estranhamento e terminava na consciência de que cada texto contém um rastro de quem o escreveu.
— Cada aluno revisitou sua carta, ajustou a escrita e ilustrou sua página. É um material autoral, único, cheio de significado — explica a diretora de Educação, Izildinha de Lourdes Benetti Alves, que acompanhou o percurso de perto.
A Fábrica de Velas São Domingos, parceira no projeto, assumiu a tarefa de transformar os desenhos e textos infantis em livro. Em cidades pequenas, onde empresas e escolas dividem o mesmo cotidiano, esse apoio não é apenas financeiro — é simbólico.
A noite das assinaturas
Quando as crianças foram chamadas ao palco para autografar os exemplares, a formalidade cerimonial cedeu espaço ao improviso natural da infância. Algumas assinaturas saíam rápidas, quase um rabisco; outras demoravam, como se a caneta precisasse negociar cada curva da letra. Havia quem erguesse o livro para a fotografia e quem, envergonhado, se escondesse atrás dele.
Mas todas as assinaturas tinham algo em comum: eram a primeira de muitas que virão — ou ao menos a primeira a ser guardada como conquista.
As famílias observavam em silêncio atento. O teatro, por alguns minutos, deixou de ser palco para ser sala de estar, onde cada aplauso funcionava como confirmação de que havia ali um rito de passagem — da leitura à autoria.
No final do evento, cada aluno levou o livro para casa. Não era apenas um exemplar impresso: era a prova concreta de que, dentro da escola, palavras ganham peso e destino.
Quando as luzes do teatro foram apagadas, o que permanecia, mais do que o livro ou a cerimônia, era a certeza silenciosa de que Ariranha havia testemunhado algo incomum: crianças que, pela primeira vez, assinaram não a presença, mas a própria história.
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